quinta-feira, abril 19, 2012

"É esta a terceira tentação dos homens no que diz respeito ao amor, a tentação de "dar-a-mão-sem-se-abaixar". Pensar que se pode amar sem se abaixar, sem ficar a perder. E então dizem coisas como: "Amo-te, mas não digas a ninguém. A minha imagem ficaria estragada." Ou: "Deixa-me fazer-te o bem mas não me obrigues a ir a tua casa, não me sinto bem nesse tipo de bairros." Ou ainda: "Conta-me os teus pecados mas não entres em pormenores para eu não me sujar." Mas amar é aceitar chegar a perder para que o outro fique a ganhar. Amar é quebrar a linha que nos mantém sempre por cima, na nossa auto-suficiência.
– E não há hipótese de os dois ficarem a ganhar? – Retorquiu...
– No papel sim, é possível pensar num amor que só tenha ganhos. Na prática não. Amor e dor são inseparáveis.
– É disso mesmo que eu estou a falar, de dor. Não falo já da dor física, mas sobretudo da dor do coração. Que farias se os homens não Te aceitassem? Já pensaste nessa possibilidade?
– Pensei na possibilidade de amar até ao fim, onde quer que isso Me leve. É essa a linha que quero traçar – percebes? –, a linha do amor. Claro que isto rompe com as hierarquias. Quando se ama deixa-se de estar acima. Parece que nunca amaste ninguém.
– Senhor, e se isso Te levar até à morte? Imagina simplesmente a possibilidade de Te quererem matar? E Tu, que és Deus, que fazes?
– Não sei o que farei. Só sei que quero uma coisa: ser fiel até ao fim."
Nuno Tovar de Lemos em o Principe e a Lavadeira

Sem comentários: