segunda-feira, abril 30, 2012

"Depois de ter permanecido muito tempo junto ao portão do jardim, Siddhartha compreendeu que o seu desejo era uma loucura, que este o havia arrastado até à cidade, que não poderia ajudar o seu filho, que não devia ter-se afeiçoado demasiado a ele. Sentiu profundamente no seu coração o amor pelo fugitivo como uma ferida, e sentiu ao mesmo tempo que não deveria remexer nessa ferida, caso contrário esta certamente iria infetar e aumentar.
O facto de a ferida ainda não ter infectado, ainda não ter aumentado, deixava-o triste. Em vez do objectivo desejado, que o arrastara até aqui atrás do filho fugitivo, estava agora vazio. Sentou-se tristemente, sentindo alguma coisa morrer no seu coração, sentiu o vazio, já não via nenhuma alegria, nenhum objectivo. Sentou-se absorto e esperou.
Isto aprendera ele com o rio, apenas isto: a esperar, a ter paciência, a escutar. E ele sentou-se e escutou o pó da estrada, escutou o seu coração, o seu cansaço e a sua tristeza, esperou por uma voz. Esteve agachado muitas horas, escutando, já não via nenhuma imagem, afundou-se no vazio, deixou-se afundar sem ver um caminho. E quando sentiu queimar a ferida pronunciou silenciosamente o Om, encheu-se com o Om"
enviado de coraçao a coraçao, in Siddhartha

Sem comentários: