Estou num daqueles dias em que nunca tive futuro. Há só um presente imóvel com um muro de angústia em torno. A margem de lá do rio nunca, enquanto é a de lá, é a de cá; e é esta a razão íntima de todo o meu sofrimento. Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer, nem há desembarque onde se esqueca. Tudo isto aconteceu há muito tempo, mas a minha mágoa é mais antiga.
Isto não é bem a loucura, mas a loucura deve dar um abandono ao com que se sofre, um gozo astucioso dos solavancos da alma, não muito diferentes destes.
De que cor será sentir?
Fernando Pessoa em Carta a Mario Sá Carneiro
quinta-feira, novembro 02, 2006
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3 comentários:
Acho que deve ser preto aou acinzentada, porque neste momento sentir dói....bjs gnds
Há vidas assim. Diria mesmo que o estar não é um estado, mas a ausência dele.
Há vazios maiores que qualquer felicidade. Há vontades de rasgar a nossa casca, cortar o cordão que nem sabemos porque nos prende ao aqui-agora, e fugir. Partir. Subir uma montanha e aprender a voar.
Ou então ficar fechado, sozinhos no escuro até não conseguirmos doer mais.
"À volta fez-se um silêncio abundante, e a maior parte do resto do mundo começou a não valor um caracol." - Boris Vien
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raquel: mesmo que sentir agora doa não seixa de ser colorido. O meu sentir agora é de um azul forte, chocante e agressivo que acredito que vai suavizar com o tempo.
vanessa: sentir assim colorido é a coisa mais linda que existe. agarra, escreve e recorda sempre esse sentir.
Mistic: sentimos as coisas de forma semelhante.. "ficar fechado sozinho no escuro até não conseguir doer mais."
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