quarta-feira, junho 08, 2011

"Olhou satisfeito para o rio, nunca a água lhe agradara tanto com esta, nunca compreendera tão clara e profundamente a voz e o significado alegórico da água que corre. Parecia-lhe que o rio tinha algo especial para lhe dizer, algo que ele ainda não sabia, que ainda o aguaradava.
Olhou afectuosamente para a água, para o seu verde translúcido, para as linhas cristalinas dos seus contornos cheios de segredos. Viu pérolas cintilantes emergirem do fundo, bolhas de ar flutuando serenamente no espelho de água, reflectindo o azul do céu. O rio olhava para ele com mil olhos, verdes, brancos, cristalinos, azuis celestes. Como ele amava esta água, como ela o fascinava, quão agradecido lhe estava! Ouvia a voz falar-lhe no seu coração, desperta outra vez, dizendo-lhe: Ama esta água! Fica junto a ela! Aprende com ela! Sim, ele queria aprender com ela, queria escutá-la. Parecia-lhe que quem compreendesse esta água e os seus segredos compreenderia muitas outras coisas, muitos segredos, todos os segredos.
Mas hoje, dos segredos do rio ele via apenas um, um segredo que enchia a sua alma: aquela água corria continuamente, corria sempre mas estava sempre ali, para todo o sempre a mesma e, no entanto, a cada momento nova!"

Excerto do livro de Hermann Hesse, Siddhartha

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