domingo, janeiro 24, 2010
Partilhando...
Hesitei muito antes de escrever esta partilha, estas linhas são cá do fundo, são quase que uma ligação directa ao meu coração e isso nem sempre ajuda, nem sempre nos deixa muito confortáveis já que nos dá uma exposição que… em algumas alturas ou contextos assusta. Não na E.A...
A vida quase sempre me pareceu óbvia, me mostrou caminho directos, indiscutíveis, me deu a conhecer o normal e natural, o esperado. Não na E.A...
Em 2005 a minha vida mudou, sem que eu esperasse... a vida alterou-se de repente, o caminho tomou outros rumos e o que para tantos outros era esquisito para mim tornou-se quase tão natural como respirar. As orações voltaram a fazer parte da minha vida, os temas alargaram os meus horizontes e o meu sentido de família alargou-se. Foi preciso crescer, foi preciso pensar muito, reflectir sobre tudo aquilo que me envolvia e me ia acontecendo, foi preciso partilhar, falar, debater, discutir, tudo e mais alguma coisa que, a maior parte das vezes escondemos e guardamos cá dentro. Não na E.A...
Aceitei muito também. Não compreendi algumas vezes os porquês mas nem sempre os perguntei também... acho que sempre pensei que a preparação e a sucessão dos acontecimentos eram como uma jóia que vai surgindo aos poucos e acho que o medo de terminar o efeito surpresa e deixar de ter coisas novas me fez receber tudo aos poucos e aceitar as pequenas, boas e más novidades com a calma de quem sabe que o “desenho” fará mais sentido quando olharmos para trás e todas as peças estiverem no seu lugar.
Não sei precisar o que foi mais difícil, nem tão pouco o mais fácil. Sei, facilmente, dizer o que foi o melhor de tudo. As pessoas. Os amigos. Os corações que toquei e que me tocaram. A dimensão das pessoas que fizeram parte desta minha caminhada.. Gigantes.
Acho que consigo dizer todas as pessoas com que, cada uma da sua forma, completaram o meu puzzle. É bom olhar para trás e ver o quão privilegiada fui…
A primeira pessoa que olhou para mim, num cantinho convencida que era transparente, foi a Raquel. Que com um olá, como vieste aqui parar me chamou ao convívio. Este foi muito pouco neste primeiro ano. Acho que tinha medo.. Comecei a conversar no retiro final, não tinha medo de conhecer os outros mas tinha medo que me conhecessem e que por algum motivo não gostassem do que viam… Aprendi que cada um tem o seu valor. Sempre importante para o grupo mas cada um com o seu tamanho, cor, sabor, cheiro, forma,… Não percebi logo isto, foi o Diogo que me ensinou. Isso e a força da oração!! Acho que nunca lhe agradeci isso. A ele e aos Padres Nuno e Daniel.
O meu primeiro ano foi diferente, os laços formaram-se mais longe de mim, mais à minha volta do que comigo o que me deu uma perspectiva diferente. E a Farinha, nisto, foi sempre um ombro… um ombro, uma mão e um abraço.. incríveis.
O projecto foi um tanto ao quanto diferente. Uma comunidade, um local, uma doença, uma viagem, um regresso mais cedo do que se queria, uma aprendizagem e um crescimento que nunca pensei. O Paulo ensinou-me que a felicidade, se existe, está onde a podemos encontrar e não naquilo que não fizemos ou não conseguimos fazer e eu nesse projecto encontrei a felicidade internada num Instituto.
Nos anos seguintes as coisas aconteceram de tantas outras formas.. fui abraçada, abracei, criei laços, cativei e deixei-me cativar por cada um de formas tão diferentes quanto pessoas existem. Às vezes, no caminho para o meu trabalho encostada à janela do comboio, revejo maus acordares, testemunhos, refeições em grande grupo, terços, partidas e brincadeiras, trilhos, viagens, passeios, campos de trabalho, encontros, … , pequenas grandes entregas que me tocaram e fizeram de mim a pessoa que sou hoje. Ensinou-me a Sofia que são “Aquelas pequenas coisas” que fazem a diferença… Nunca hei-de esquecer os olhares, as partilhas e os abraços do Quico e da Vanessa. Foi mesmo importante para mim partilhar este “cantinho” da minha vida com eles.
Foram anos fantásticos… Fiz parte de um grupo de trabalho tão dedicado e presente. Vivi tanto.. Aprendi tanto… E vi “crescer” o nosso Miguel num projecto juntos.. E que projecto!!
Moçambique será sempre uma casa para mim. Sempre… Não só porque foi a primeira vez que fui ao poço, a primeira vez que comi xima, a primeira vez que falei de desenvolvimento, a primeira vez que rezei um terço debaixo daquele céu, não só porque aprendi a dizer salama e dinobomga, conheci padres e irmãs que são e serão sempre um exemplo para mim, mas principalmente porque aprendi o que é uma missão, o que é ser-se missionário, o que é ser-se e estar-se ao serviço dos outros e isso, depois de apreendido e com um esforço diário, faz-se onde quer que se esteja.
O essencial.. esse dizem que é invisível aos olhos. Não na E.A... O essencial está bem à vista. São as pessoas, a forma como estas acolhem e se deixam ser acolhidas, como aprendem juntas, como se despem de egos e estão verdadeiramente com os outros, como são mais fiéis a si próprias e aos valores em que o grupo acredita e isso não é invisível. Está bem à vista no rosto e no coração de cada uma das minhas coxas, da Ana, da Belinha, do Bruno, do Carlos, da Daniela, do Francisco, da Guida, da Helena, da Li, da Lisa, da Luisa, do Manel, da Mesquita, do Renato, do Rui, da Sónia, do Tiago, do Timon, da Zeza, …, de todos.
Eu acredito muito no trabalho da Equipa d’África e esta, aos poucos, com pequenos grupos, ajuda a construir uma sociedade mais consciente, mais responsável, mais activa e principalmente com mais amor.
OBRIGADA E.A.
Uma partilha cá de dentro que começou por ser em tom de despedida acabando por ser uma forma de agradecer tudo e todos que partilharam este cantinho comigo.
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4 comentários:
Para ler aos poucos e devagar. Obrigada por partilhares com o resto do mundo também :)
um turbilhão de emoções neste texto =)
tenho tanto a agradecer por aquilo que és!
obrigado EA*
obrigado Rita*
Normalmente, só leio o que escreves. Hoje apeteceu-me mandar-te um enorme beijinho.
Espero que estejas bem, Rita.
fazes muita falta...
obrigado por me deixares fazer parte da tua vida e por tudo o que me ensinas-te.
beio
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